Você compraria de uma empresa que utiliza mão de obra escrava? Para falar sobre esta questão, o ECOTIDIANO conversou com a Ana Wilheim, Diretora Executiva do Instituto Akatu, instituição que promove o consumo consciente. Wilheim apresentou a visão do Akatu, que vê no consumidor uma chave para abolirmos de vez com a exploração humana ou degradação ilegal da natureza. (clique no texto abaixo para ler a entrevista completa).
Algumas empresas terceirizam ou quarteirizam a mão de obra e perdem o controle de suas práticas de produção. Na visão do Instituto Akatu, elas são responsável pelas irregularidades?
Ana Wilheim: Sim. Todas as empresas têm uma grande responsabilidade e é possível ter esse controle. Afinal, quando se fazem contratos com fornecedores em volumes grandes de produção, a empresa que está comprando tem como saber as condições de produção. É inadmissível hoje seguir com a mão de obra infantil ou o trabalho escravo. Existem maneiras de amarrar o contrato e se comprometer com uma cadeia de produção mais justa. Nós do Akatu nos preocupamos com o consumidor e queremos que ele tenha mais condições de refletir sobre a origem do produto e comece a reconhecer se ele veio de uma cadeia limpa ou suja.
O que é uma cadeia suja?
Ana Wilheim: Cadeia suja é aquela que utiliza mão de obra infantil, trabalho escravo ou degradação ilegal da natureza, como tem ocorrido com o desmatamento na Amazônia.
O que tem sido feito para desestimular essa cadeia suja de produção?
Ana Wilheim: O Instituto Akatu, por exemplo, participa da rede Conexões Sustentáveis São Paulo – Amazônia, em que um conjunto de empresas se compromete a não comprar madeira de produção ilegal ou carne proveniente de regiões de desmatamento ou trabalho escravo. Da mesma forma, o consumidor pode começar a olhar a etiqueta do produto e saber de onde ele vem. Bom, o consumidor não é um pesquisador, mas tem um poder muito grande a partir do momento em que começa uma reflexão sobre o consumo.
(obs: no site do Akatu, HYPERLINK http://www.akatu.org.br www.akatu.org.br, há uma relação de fazendas que se beneficiam do desmatamento ilegal e da mão de obra irregular).
A solução é criar selos de certificação para ajudar o consumidor nessa tarefa?
Ana Wilheim: Penso que antes de uma etapa de selo, o ideal é que se tenha uma espécie de bula, que descreva o modo de produção e o trajeto do produto, pois sabendo de onde vem e se a cadeia produtiva é regular, o consumidor pode escolher melhor. A proposta da bula é favorecer um processo pedagógico. O consumidor poderá refletir: “de onde vem essa mercadoria? A cadeia produtiva é regular? Qual o consumo de água nessa cadeia produtiva?”. Estamos na transição para uma economia verde, em que as empresas precisam cumprir seus contratos trabalhistas e com fornecedores e rever suas práticas.
E qual é o papel do consumidor nesse novo cenário?
Ana Wilheim: O consumidor está sendo despertado. O Akatu acredita na força transformadora que o consumidor tem, seja ao boicotar um produto que utiliza mão de obra escrava, seja para dizer “isso eu aceito” ou “isso eu não aceito, não concordo”. A nossa proposta é sensibilizar o consumidor para ter noção da sua importância para que sejam inibidas práticas de degradação ambiental ou mão de obra infantil ou escrava. Vivemos num mundo do consumo, e nós do Akatu estamos empenhados para ajudar o consumidor a refletir sobre a origem do produto e reconhecer se ele veio de uma cadeia limpa ou suja.